Na terceira pessoa

Com uma precisão quase religiosa, reúnem-se num prédio velho da baixa Portuense 3 indivíduos na casa dos 30, ás 6 horas e á frequência de três vezes por semana. Chegam de pontos diferentes da cidade e habitualmente espaçados em dez minutos. Depois da actualização de assuntos mundanos (que não interessam nem ao menino Jesus) e da abertura de três recipientes de vidro que seguram malte e lúpulo dirigem-se calmamente para os lugares pré estabelecidos pela proximidade dos instrumentos ditos musicais e respectivos amplificadores. Um é alto e toca bateria. Outro é distraído e toca guitarra. O outro é teimoso,toca baixo e finge que canta.
Os três carregam diferentes vidas mas juntos dão vida a uma entidade independente e só dependente dos três. Nem tocam por aí além no que á precisão das notas diz respeito mas a massa sonora resultante até que soa bem, assim uma espécie de Trio Odemira mas só com dez cordas e sem o orgão. E definitivamente mais alto. Ás vezes é uma grande confusão porque foram os três baptizados Pedro então...estão a imaginar não é?
Como dizia um deles um dia destes: O caminho faz-se caminhando.