Monday, May 10, 2021

Irene

 A Irene nasceu em Miragaia no dia 24 de Junho de 1922, dia de S. João. Aos 14 anos perdeu a mãe, e o pai, fotógrafo de profissão, faleceu pouco depois, ficando a tomar conta do seu irmão André de 12 anos de idade. Com o pai aprendeu as artes da fotografia, então muito mais do que hoje, uma verdadeira Arte, Arte essa que ia muito para além do "tirar a chapa" pois envolvia colorir e retocar à mão as fotografias a preto e branco, então tiradas por arcaicas máquinas Rolleicor. Aos 16 anos veio para o Porto, trabalhar na famosa Fotografia Alvão e aos 21 anos casou e estabeleceu-se sozinha no Carvalhido, fundando a "Fotografia do Carvalhido", tendo sido a primeira fotógrafa profissional mulher do país, posto que lhe granjeou até uma entrevista na rádio nos anos 80.

Era uma apaixonada por cinema, falava imensas vezes das idas ao Rivoli e Coliseu ver os mais recentes filmes de Fred Astaire, Clark Gable, Cary Grant onde na primeira parte se visualizavam notícias da frente de combate da 2a Grande Guerra. Tinha em Nat "King" Cole uma preferência musical e chamava ao seu marido João "John" , tal como ouvia no grande ecrã.

Até aos seus 95 anos,e quando as pernas ainda deixavam, ia comer umas Sardinhas Assadas ao Solar Moinho de Vento na noite de São João e dar um passeio pela Baixa Portuense, ver a folia e os balões.

Teve 3 filhos e 2 netos e viu partir a primeira filha bébé com 3 meses, o irmão André com 57, o seu filho Miguel com 39, o marido João (nascido também no Porto no dia de S. João) com 81,o seu neto Miguel Pedro, com 41 anos e nunca, mas nunca perdeu a força e vontade de viver.

A Irene faleceu ontem com 98 anos e era minha avó. 

No dia do seu 97º aniversário li-lhe este pequeno texto, que partilho aqui:

"Antes de mais é para nós um orgulho estarmos presente no aniversario dos teus 97 anos. Daquela que é para nós a mulher mais corajosa e lutadora que conhecemos, uma "self made woman" quando ainda não existia sequer a expressão, a primeira fotógrafa da cidade do Porto, super talentosa, empresária, mãe, avó, bisavó e amiga. Só esperamos ter sempre metade da força que sempre tiveste durante toda a tua vida Maria Irene Pereira dos Santos Ribeiro. Saúde!"

Até sempre Bó. 



 

Monday, April 5, 2021

O som do silêncio

O último de Pharoah Sanders , Saxofonista de Jazz extraordinaire em colaboração com Sam Shepperd (sob o pseudónimo Floating Points) e a London Simphony Orchestra é um disco sublime do início ao fim.

Sanders, do alto dos seus 80 anos, lembra um John Coltrane no pico da carreira (mas mais económico na quantidade de notas e de refinada escolha na qualidade das mesmas) enquanto improvisa sobre um loop  harmónico de harpa, piano e outros instrumentos difíceis de descortinar que aparece de 9 em 9 segundos, criado por Shepperd. A London Symphony entra e sai, com arranjos sublimes, de Pianíssimo a Fortíssimo.

Para se ouvir do início ao fim, de olhos fechados, bem alto (ou de headphones) e viajar durante 46 Minutos e 17 Segundos...Discaço.


 

Saturday, March 27, 2021

Comida de conforto, my ass.

Não sou fã da expressão "Comida de Conforto", tão em voga nos dias que correm, quando esta é associada à Cozinha Tradicional Portuguesa. Explico.

Em primeiro lugar é uma expressão traduzida à letra do anglo-saxónico "Confort Food",uma adaptação recente, expressão que  os Americanos e  Ingleses (e sobretudo os Americanos) usam para definir comida que não seja nem Fine dining nem Fast Food, os antípodas da comida que nos supostamente nos deixará satisfeitos, "confortáveis".

Não me julguem mal, eu acho que a Comida Tradicional Portuguesa deixa qualquer um imensamente satisfeito e entendo que os anglo-saxónicos a queiram encaixar na gaveta do que para eles  è "Confort Food" , não entendo é a necessidade Portuguesa de o traduzir à letra e de lhe passar a chamar "Comida de Conforto", é só mais uma adaptação saloia, no pior sentido.

Meus caros, a comida tradicional Portuguesa não deve ser engavetada em "Comida de Conforto", é comida da boa, de matéria prima variadíssima, cujo receituário pode ser "light", "fast", "fine" ou de tantos outros adjetivos que se lhe queiram atracar. É Comida Tradicional Portuguesa, ponto final parágrafo, mandem lá os "beefs" traduzir isso.

Comida de conforto? Não, espantem-se, Comida Tradicional Portuguesa.

 

Friday, March 19, 2021

Bela Cicatriz

 Desde que comecei a imaginar fazer música (ali entre os 13/14 anos) não entendo bem o que verdadeiramente me move a tal. Em retrospectiva (sempre mais fácil de interpretar) diria que na adolescência/juventude existia muito provavelmente a procura de "fama e glória" no sentido de simular o que os nossos ídolos faziam e do "glamour" que lhes associávamos. Acho que isto é transversal a quase todos os putos que tocam mas com o passar dos anos isto inverte (pelo menos no meu caso). A procura por exposição refreia, a necessidade de privacidade aumenta, lida-se muito bem com um semi-anonimato, usa-se e abusa-se dos pseudónimos, descansam-se as guitarras durante meses...mas nunca se deixa de fazer música verdadeiramente. É algo que está cá e estará, mesmo que o início seja bem mais prolífico do que a actualidade. Por isso tem de haver algo para lá dessa procura inicial redundante e borbulhenta. 

E assim chego à Bela Cicatriz.



Wednesday, March 17, 2021

Back to the start.

E eis senão que , após alguns anos de maior ou menor frequência pelas ditas "redes sociais", chego à conclusão que a forma mais "adequada" de me exprimir públicamente que encontro é mesmo no formato de canção, e não necessariamente letrada.

Ao mesmo tempo que me debatia silenciosamente com o tipo de presença "online" que queria ter, descobri por um feliz acaso as passwords do "Pataniscas e Rock n Roll" , blog que fundei num longínquo 2007 e que me acompanhou durante cerca de dois anos e meio...De repente it hit me: "Eh pá, porque não reavivar isto?!"  

Para resumir, um blog é simplesmente uma forma menos intrusiva de me relacionar com os outros online, não há feeds com informação a mais, não desejados, imbuídos no meio do restante "ruído-ciber-social".

Não me perguntem porquê mas sempre tive um bocado a mania de ir contra a corrente. Seja na música, na restauração, seja nas variadas decisões diárias da so called LIFE. Enquanto vejo muita gente a migrar para o Tick Tock (?), percebo que não consigo ter alguma coisa a ver com aquilo, muito por inaptidão, falta de tempo ou timidez (na falta de outra palavra) que me faz evitar cada vez mais a exposição física no formato de videos ou fotos espalhados pela internet fora. Esta timidez pública acentuou-se nos últimos anos (PDI?) e afetou também o LOBO, a minha banda de canções de sempre e que lentamente me levou  a escolher, no estúdio de gravação, o lado de "cá" do vidro, optando por produzir e misturar outros artistas ao invés de subir a palcos para tocar e cantar para outros, excepção feita em 2015 com o lançamento do "Reverberação" e em 2017, com o lançamento do single "48K", ambos pelo LOBO e que acabaram por trazer exposição radiofónica e concertos prazerosos mas... repletos de ansiedade.

Ao mesmo tempo faço uma reflexão e percebo que gosto imenso de "pensar" sobre música, comida e de tudo o que gira à volta destes dois fabulosos e abrangentes temas, e é muito como decerto sabem.

Nos "entretantos" o mundo mudou quase assustadoramente mas a magia ainda cá está, como quando ouvi pela primeira vez o "1967-1970" dos Beatles no gira-discos lá de casa ou nas memórias olfactivas e gustativas dos pratos tradicionais que saboreava aos domingos em casa dos meus pais. 

Por achar que posso contribuir com uma particular perspectiva sobre estes dois apaixonantes assuntos decidi regressar ao "Pataniscas" e aos posts terrivelmente irregulares sobre música , na que estive envolvido e na de outros , à data que escrevo este texto 30% da minha actividade profissional, e sobre a tríade restauração/comida/vinho , neste momento 70% da minha actual actividade profissional.

Farei também alguns flashbacks aos últimos anos. Concertos, gravações, produções para outros artistas, restaurantes visitados, refeições inesquecíveis, vinhos de memória...you get the picture.

Ora então até já, num próximo post, de guitarra em punho...ou com os pés debaixo da mesa.

Sunday, September 6, 2009

Done

"Socorros a Náufragos" masterizado. Thank you Mr. Denis Blackham for the wonderfull EQ.

Friday, August 7, 2009

By God!

Reparo que para se ser "artista" em Portugal, é preciso deixar crescer pêlos faciais, fartos de preferência... Isto vai dar gozo, vai.

Tuesday, June 9, 2009

Em falta

Sim sim, estou em falta para com o Pataniscas é certo, blame Facebook!
Mas não, não só o Facebook é culpado desta ausência prologada mas (e embora não pareça) o LOBO tem dado que fazer.
Ele é conclusão do disco, Masterização, Teledisco, Sessão de fotos, registo das canções na SPA e outras surpresas que ainda são um pouco incertas para revelar.
Uma no entanto é certa, a inclusão da canção Agora, Aqui na compilação Novos Talentos Fnac 2009, escolhida pelo Henrique Amaro himself. Confesso que fiquei um pouco surpreendido e não foi por não acreditar na canção believe me.
E enquanto forem aparecendo novidades serão aqui dadas em primeiríssima mão, that´s a promise.
Para já dia 20 de Junho podem aparecer ali na Rua Galeria de Paris para concerto do LOBO juntamente com os Ex-Wife incluido no PORTO SOUNDS e dia 27 de Junho apareçam na Praia de Esmoriz pelas 22:30 para participarem na filmagem do 1º VideoClip do LOBO...with free beer!
Cheers my friends.

Tuesday, May 19, 2009

Bob Ludwig, os Guns n Roses e as Loudness Wars

Para quem não sabe Bob Ludwig é simplesmente um dos melhores Engenheiros de Masterização de discos do mundo. E o que é a Masterização perguntam vocês?
Quando um disco é terminado muitas das canções foram gravadas em sítios diferentes, por engenheiros diferentes e até produtores diferentes. Temos portanto um número de temas com níveis diferentes de volume,estilo e equalização.
Para tornar o disco final o mais homógeneo possível enviam-se as canções para um Estúdio de Masterização onde o Engenheiro de Masterização responsável (no caso do LOBO Denis Blackham) vai Re-Equalizar e Nivelar (usando compressão) as canções uma a uma para tornar o bolo final uma "listening experience" agradável para os ouvintes finais (Nós).Nos últimos anos e com a proliferação da Internet as editoras começaram a competir entre si e a Masterizar os discos o mais alto possível para quando pomos o nosso Ipod ou Media Player em Shuffle a música deles soar MAIS ALTA que a editora do lado.
Começou aquilo que se designou por Loudness Wars.
Cada estúdio de Masterização começou assim a ter de comprimir cada vez mais os discos que lhes eram enviados para poderem assim fazê-los soar mais alto. Mas como mais alto não quer dizer melhor, muita compressão é também sinónimo de menos dinâmica e mais distorção e todos sabemos (e sentimos) que a música sem dinâmica perde o impacto, soa esmagada e sem vida.
Comprei o disco dos Guns n Roses Chinese Democracy mal saíu e fiquei maravilhado com as misturas e masterização. Goste-se ou não da música o disco soa lindamente, com dinâmica, definição e punch. Descobri também que estava masterizado bem mais baixo que as edições comerciais de outros discos de tubarões da Industria Musical e fiquei por isso surpreendido...e contente.
Quem masterizou o disco foi Bob Ludwig e hoje deparei-me com a seguinte missiva escrita por Bob Ludwig no seu site oficial (www.gatewaymastering.com).
Para o bem da música gravada esperemos que Bob tenha razão.

PS:O disco do LOBO vai ser masterizado por Denis Blackham...com dinâmica.

"Guns ‘N Roses:Dynamics and quality win the Loudness Warsfrom Bob Ludwig: On Sunday, November 23rd the new Guns ‘N Roses record Chinese Democracy was finally released after many years of waiting and many millions spent making it. 14 different recording studios are credited. I was thrilled to have been chosen to master the album.In October, when I first heard some of final mixes which were incredibly multi-layered and dense, I was surprised by two things: The mixes were so finally honed that doing the smallest move sounded like I had done a lot and also that adding the typical amount of compression used in mastering these days took the life and musicality out of the recordings in a big way. The trial disc I submitted to the producers had 3 versions: The one I personally liked had no compression that was used just for loudness, only compression that was needed for great sounding rock and roll. Then, knowing how competitive everything is these days, I made two more masterings, one with more compression and another with yet more compression, but even the loudest one wasn’t remotely as loud as some recent CDs. Hoping that at least one of these would satisfy Axl and Caram Costanzo, the co-producers of the record, I was floored when I heard they decided to go with my full dynamics version and the loudness-for-loudness-sake versions be damned.I think the fan and press backlash against the recent heavily compressed recordings finally set the context for someone to take a stand and return to putting music and dynamics above sheer level. The dynamics vs. volume trade-offs include the act of simply turning your playback volume clockwise a little. True, when shopping the iTunes store your song may not blast out as loudly as other songs. When trying to impress the radio station PD it may be an issue if you don’t have the guaranteed attention this record deserves, however level on the radio broadcast is NOT an issue. As I have been lecturing to people for years, the radio stations are all in competition with each other and they all have devices to make loud things soft and soft things loud and indeed, I heard a critic’s review of Chinese Democracy on NPR and the song examples they played screamed over my portable radio. Even with the radio station compression you can still hear detail in the car… amazing!I’m hoping that Chinese Democracy will mark the beginning of people returning to sane levels and musicality triumphing over distortion and grunge. I have already seen a new awareness and appreciation for quality from some other producers, I pray it is the end of the level wars."

Monday, May 18, 2009

Back from the Nineties

300 pessoas na nossa Nineties All Starz, números oficiais. Para os que não tiveram oportunidade de ir don´t worry, não vai ser a última parece-me.
Momento alto: Pantera - I´m Broken.

Wednesday, May 13, 2009

What's Going On

Descubro canções na acústica de novo. Ele é Rob Dickinson, Dylan, Prefab Sprout, Josh Rouse, Springsteen e até vou aos Echo and the Bunnymen. E originais ensandwichados pelo meio pois claro. E vou com estas e outras mais o amigo Al Barão ali ao Bordel (um excelente café/bar/casa de um amigo na Cedofeita) despejá-las ao vivo brevemente. Para quem quiser simplesmente partilhar um momento que profissionalismo não consta do nosso dicionário. Como dizia a outra: Girls just wanna have fun.
Já o disco do Lobo aproxima-se perigosamente da conclusão. Não o quero deixar ir, ficava eternamente a por-lhe defeitos e a corrigi-los. É incrível como seria possível compôr, gravar e produzir um disco sem nunca lhe colocar um ponto final. Mas como dizia o outro: It´s time to let go...
E este fim de semana a estreia das nossas Nineties All Starz ali no Wait Music Club...
Venham dizer olá.

Friday, May 1, 2009

Mais dois

Ok ok, mais duas adições á lista de melhores discos do ano que findou.

Primeiro uma reedição que se pode considerar um disco novo, falo do disco a solo da voz dos Catherine Wheel, Rob Dickinson.
Originalmente lançado em 2006 teve direito a reedição especial em 2008.O disco é fabuloso de uma ponta á outra além de que traz um segundo CD com temas acusticos dos Catherine Wheel de Bonus. Excelente Rob Dickinson, mais um que não sabe fazer maus discos.




Fresh wine for the horses - Rob Dickinson

Tom Barman parece ficar melhor com a idade. O vocalista, produtor e mentor dos dEUS reformou a banda em 2005 com um novo Line-Up e o ano passado editaram Vanishing Point que ficou a modos que esquecido do publico em geral. E que injustiça diga-se. o disco surpreende e cresce a cada audição, a música é eclética Q.B. , é viva, melancólica, nostálgica,tem refrões surpreendentes, é eléctrica e superior.
Parabéns Tom.

Vantage Point - dEUS



dEUS - The Architect (Video Oficial)

Wednesday, April 29, 2009

Cheers Mate!

Gravações do disco de estreia do LOBO, Socorros a Náufragos, no Boom Studio.
Na penumbra os técnicos João Bessa e Ricardo bebem vinho tinto, Pedro M grava percussão, Pedro Lobo filma. É assim que se gravam discos. O tema chama-se Ana.


Em estúdio

Friday, April 17, 2009

Foot Loose

Não é o video Oficial mas podia ser. Um fantástico Mash up de filmes dos anos Oitenta (Breakfast Club, Pretty in Pink, etc..) com o ultimo e fabuloso single dos Phoenix, Lisztomania. Quem não abanar a perna está morto cerebralmente.



Thursday, April 16, 2009

O porquê da derrota de ontem no Dragão

Helton - É um gajo do catano mas o FCP tem de pensar num substituto de nível internacional ASAP. De boas intenções está o céu cheio.

Líderes de fora - Além de não termos o General Jesualdo no banco, "El Comandante" Lucho lesionou-se cedo demais na partida. Lucho a jogar mal é sempre fulcral nas manobras do Porto e todos sabemos o que são tropas sem líderes...

Hulk - Estava na ficha do jogo, curioso não o ter jogado.

A substituição de Rodriguez - Eu e mais 49999 pessoas no Dragão não a perceberam, parece que Rodriguez também não.

Manchester United - Não só tem um Orçamento 4 vezes superior ao do FCP como teve a Estrelinha do jogo do seu lado. Um remate mais certeiro por parte do FCP e a história do jogo podia ter sido bem diferente.

Resumindo, o Porto caíu de pé. Com algumas rectificações no plantel para o ano veremos.
Beware Europe.

Wednesday, April 8, 2009

Blue Devils



Para a semana estarei no Dragão a aniquilar o que resta das minhas cordas vocais.


Monday, April 6, 2009

Actualização

Sei que ando a blogar muito pouco sobre repasto mas não é por andar arredado de bons sítios de comer. Mário Luso nos Carvalhos, Os Castelhanos no Picoto e O Paparico no Porto foram três memoráveis locais que tive o prazer de visitar.
Além disso o tempo tem sido pouco para ser passado com os pés debaixo da mesa, infelizmente.



Restaurante Mário Luso - Sala Principal

PS: Divinal o Bacalhau que cozinhei ontem á noite. Quando lhe perder o sentido de pertença, sempre egoísta, posto aqui a receita.

Wednesday, March 25, 2009

Thursday, March 19, 2009

Canção Perfeita



Moment of Surrender - U2

É das melhores coisinhas que estes gajos já fizeram. Sabendo que foi criada e gravada num único take (com posteriores Overdubs obviamente) ainda a torna mais especial.

Monday, March 16, 2009

Sabrina:

Audrey Hepburn no limiar da perfeição.


Friday, March 13, 2009

A semana futebolística



No Comments

No Dragão estive a vinte metrinhos do Helton e vá lá que não lhe deu para tocar Cavaquinho. Graçazadeus né?

Wednesday, March 11, 2009

Tim Friese-Greene´s Back!

Esperei por nova música dos Heligoland até final de 2008, o site oficial assim o anunciou durante boa parte do ano. 2009 chegou depressa e sem sinal de vida de Tim Friese-Greene.
Pois bem, lá voltei esta semana e parece que os Heligoland (Alter Ego Noisy de Friese-Greene)estão em Pause Mode e este dedicou-se a compor música para um trio constituído por Piano, Baixo e Bateria. O disco (intitulado 10 Sketches for Piano Trio)é também o primeiro disco da sua carreira em nome próprio. Obrigado Tim por nos continuares a dar música.



Tim Friese-Greene é o de cigarro na boca, aqui nos tempos em que era engenheiro de som nos lendários estudios de Wessex. Ao seu lado Johny Rotten e Dave Goodman.

Tuesday, March 3, 2009

Finalmente.



U2- No Line On The Horizon

"If this isn´t our best record, then we´re irrelevant" Bono dixit antes de sair o novo No Line on the Horizon. Não Bono, não é o melhor disco dos U2 e não, os U2 nunca serão irrelevantes. Mas descansa que é o melhor U2 desde Achtung Baby sem sombra de
dúvidas. Vá lá, desde Zooropa.

Primeiro as fraquezas:

-Get on your boots: Embora com um riff potente não deixa de ser uma espécie de Vertigo de segunda categoria e que cai no meio do album não se sabe muito bem como. Péssima (mas previsível) escolha para single.

-I´ll go crazy if I don´t go crazy tonight: É U2 "How to dismantle an Atomic Bomb", City of Blinding Lights Style. Clássico mas pouco entusiasmante.

-White as Snow: Desinspirada interpretação de um tema tradicional, faz lembrar o dengoso "The hands that built America".

E felizmente chega. Virtudes:

-No Line on the Horizon: Reeinvenção U2 fazendo lembrar uns My Bloody Valentine com Brian Eno aos comandos. Mostra também que Larry Mullen até sabe fazer Paradiddles. Uau.

-Breathe: Bono a disparar como Bob Dylan, The Edge a riffar como Jimmy Page. Grande Refrão, grande Solo de guitarra, cordas á Beatles, who could ask for more?

-Unknown Caller: Brian Eno está lá sim. E as ordens que aqui se gritam no refrão vêem direitinhas dele. Grande baixo de Clayton. Aliás, Adam Clayton espanta neste disco.

-Moment of Surrender: Gospel e mais Gospel. Uma espécie de "So Cruel" mas para melhor no tema mais longo que os U2 alguma vez editaram com uma estrutura complexa mas interessantíssima. E outro grande baixo de Clayton. Danny Lanois anda muito por cá também.

-Magnificient: É U2 velha guarda. Guitarra Coca-Cola de The Edge, Larry Mullen nas semi-colcheias nos choques, Adam Clayton nas Colcheias e Bono a cantar sobre...Love, que mais?

-Cedars of Lebanon: Bono como correspondente de guerra num tema negro e calmo com Eno a dar o mote no suposto refrão. O tema mais Passengers do disco. Aliás,a presença de Eno faz-se sentir por todo o disco, mais que a de Daniel Lanois.

-Stand up Comedy: The Edge a dar uma de Jimmy Page. Fantástica ponte. Lembra os bons momentos dos Oasis por vezes.

-FEZ-Being Born: Cresce com as audições. Ele é colagens de Brian Eno, manipulação eléctronica e quando menos se espera transforma-se em Being Born. Tensão, noise, efeitos, Bono a planar, frases de Eno, teclados esvoaçantes very good indeed!
Nota ainda para a qualidade das letras de Bono depois da desilusão em All That you can´t leave behind.
Boa rapazes, can´t wait to see this little bastard live!

Friday, February 27, 2009

Este Sábado

O Breyner 85 vem abaixo e com o LOBO lá dentro.

Monday, February 16, 2009

On My Stereo

Frank Black - SVN FGNRS



(este gajo está cada vez mais chaladinho...para nosso bem claro está)

Thursday, February 5, 2009

Num quarto escuro, bem alto.

Conheçem aquele livro que ostenta na capa "1000 records you have to hear before you die"?
Pois não menciona o Spirit of Eden...Talvez por ser um disco imortal? Hhmmm...deve ser.
Quem gosta de música, seja porque raio de motivo for, tem obrigatoriamente de o ouvir de uma ponta á outra, sem interrupções. Porque ele é assim, urgente ainda, vinte anos depois da sua concepção.
Depois, devagarinho, quando começarem a ser consumidos por esta música que soa a muito e a nada, barulho e silêncio, tempestade e bonança, crescerá a curiosidade de ouvir o Colour of Spring (este sim, mencionado no livro) e o canto do cisne, Laughing Stock. Ah e o Mark Hollis a solo, talking about dynamics.
Não se preocupem, nenhum vos desiludirá. Palavra.

"It simply sounds like no other record ever released." - BBC.com
(como se fosse preciso a BBC para o confirmar)





PS: Se quiserem ler alguém a escrever a sério sobre o que é este disco leiam este artigo.

"These are just my thoughts as I stand now. My love affair with this beautiful and vatic record is fresh, and like all youthful suitors I will tend to idolise and revere the object of my passion, to read too much into its gestures and motions, to ignore the world outside for a while; and yet I know that there are still many things to be found within the minutes of this record, in its antecedents and heirs, its sources and resonances. "

"If it´s not love then it´s the bomb that will keep us together"

Thursday, January 29, 2009

Este sábado...

...vou tocar uma canção com o amigo Kendall no Breyner 85.
Sim, ele é Rythm & Blues... mas será que alguém sabe o que é Rythm and Blues these days?
Vá, apareçam para confirmar.

Saturday, January 24, 2009

Rectificação

Acontece. Discos do ano transacto que deveriam figurar no meu Best Of mas que só chegam aqui aos ouvidos no ano corrente. Off With Their Heads dos Kaiser Chiefs é um desses discos.
No próximo sábado não os perco no velhinho Coliseu do Porto (Onde em tempos vi uma das demonstrações mais agressivas do que deve ser uma banda rock n roll ao vivo, os Pixies em 1991).



Kaise Chiefs - Never Miss a Beat

Wednesday, January 21, 2009

Hoje deitei-me assim



Electric Feel - MGMT (Justice Remix)

Monday, January 19, 2009

R.I.P



João Aguardela, 1969-2009

"Aqui ao luar ao pé de ti, ao pé do mar, só um sonho fica só ele pode ficar..."
Tive o prazer de o conhecer brevemente. Tocamos juntos num concerto em Matosinhos e trocamos uma dúzia de palavras, estava ele com o Megafone.
Descansa em paz João. A música em Portugal nunca mais vai ser a mesma sem ti.

Wednesday, January 14, 2009

Incontornáveis

30 Anos. Sim, trinta anos de carreira feitos ontem. É este o número que já ninguém tira aos Xutos e Pontapés. Chamar-lhes instituição é um terrível lugar comum ao qual muitos recorrem mas eu recuso-me a dar-lhes tal designação, uma instituição é anti-Rock´n Roll e os Xutos sempre foram muito Rock´n Roll.
Para a música em Portugal os Xutos abriram portas que mais ninguém saberá como foi abrir e a (juntamente com os U2) fizeram-me querer pegar numa guitarra.
Tomem lá porquê.



Longa se Torna a Espera (ao vivo 1988)- Xutos & Pontapés

Sunday, January 11, 2009

On My Stereo - Stevie Ray Vaughan

Se tivesse de cometer uma injustiça e escolher um, só um Guitar Hero da minha preferência, este teria de ser Stevie Ray Vaughan.
Um escritor de canções inferior (Hendrix, um dos seus heróis, era muito superior) mas um guitarrista incrível, SRV levou os Blues eléctricos a sitios onde poucos sonharam ir. Clapton questionava-se porque é que era cabeça de cartaz quando SRV fazia as suas primeiras partes e David Bowie convidou-o para fazer o famoso solo de guitarra no seu Hit China Girl.
Deixou-nos em 1990 e não houve mais ninguém que fizesse soar uma Stratocaster desta maneira.



Stevie Ray Vaughan - Voodoo Chile (Slight Return)

Wednesday, December 31, 2008

Class of 2008

E pimba. 2008 passou literalmente a voar, fica muita coisa feita e muita por fazer e chegamos ao tradicional balanço que fazem as delícias de todos os melómanos.
Fica o meu contributo, sei que este em pouco vai mudar a vossa consciência musical face a tanta, mas tanta gente a opinar mas pelo menos serve de memorando pessoal, uma espécie de álbum fotográfico sonoro do ano que passou.

Melhores discos com edição em 2008:

Coldplay - Viva la Vida or Death and all his friends
É curioso mas os Coldplay são uma banda que quase toda a gente tem vergonha de dizer que gosta. Não sei se pelo ar de eterno adolescente atinado de Chris Martin ou se pelos números das vendas dos seus discos mas é um facto que até o próprio Martin já admitiu em entrevista.
Pois bem,calem-se pseudo-intelectuais, alternativo-forinhas e eteceteras, viva La Vida é um grande disco em qualquer planeta. (Sim, Chris Martin continua a irritar-me com as suas Bono"ices" mas isso é outro assunto)

Glasvegas - Glasvegas
A Estreia do ano. Já aqui disse o que tinha a dizer sobre eles. Canções eternas... motherfuckers.

Guns n roses - Chinese Democracy
Leram bem, Chinese Democracy. Depois de terem sido enxovalhados por meio mundo, dizerem que não fazem sentido em 2008, questionarem os 14 anos que Axl Rose demorou a concluir Chinese Democracy aqui estou eu para o defender.
Grandes canções, lindamente tocadas, misturadas e produzidas. Nota-se um ou outro loop "fora de tempo", um ou outro arranjo de cordas desnecessário, e três canções que poderiam ter ficado de fora (Madascar, This I love e Sorry). Mas porra, rocka como poucos sabem rockar.
Parabéns Axl, é uma obra-prima, podes morrer descansado.

Wire - Object 47

Quem diria que uma banda com trinta anos de carreiras consegue fazer um disco tão fresco e interessante?

TV on the Radio - Dear Science
Continuam o Excelente trabalho de Escape from Cookie Mountain e até tocam novo território.

Cut/Copy - In Ghost Colours
Estes gajos são bons. Quando vi que vinham produzidos pelo pessoal da DFA pensei com o meu ar céptico: "Mais electro-coiso da modinha"
Depois de ouvir o disco fiquei colado e...calado.

M83 - Saturdays = Youth
Este anda a rolar fresquinho no meu Telemóvel/Walkman e chegou bem a tempo de integrar esta lista.

Nick Cave and The Bad Seeds - Run! Lazarus, Run!
Vão se rir de mim mas é o primeiro disco de Cave que compro. Já ouvi vários, achava-lhe piada mas...something´s missing. Depois de ouvir Run! Lazarus! Run! parece que vou ter de começar a dar dinheiro ao homem com mais frequência.

These New Puritans - Beat Pyramid
Estes gajos sabem ser diferentes do resto da "Mugangada-do-Rock-Alternativo-De-Guitarras" que por aí anda.

MGMT - Oracular Spectacular
Tem duas ou três das grandes canções do ano e isso é suficiente.

My Morning Jacket - Evil Urges
Não os conhecia bem. Vi-me á rasca para comprar o disco mas o Paulinho da Mr Cool lá me safou como sempre. Atira em 834648 direcções diferentes mas é um disco que dá um prazer sublime a ouvir, se calhar por isso mesmo.

Fireman - Electric Arguments
Paul McCartney e Youth dão as mãos e conseguem ser mais interessantes, inventivos e arriscar mais que um zilião de bandas novas que por aí andam.
Paul McCartney está bem lá em cima como Mozart, já diz Bono bem.

Melhores canções com edição em 2008:

Glasvegas - It´s my own cheating heart that makes me cry
MGMT -Time to pretend
Coldplay-Strawberry Swing
Guns n Roses - Better
TV on the Radio - Family Tree

Melhores discos de audição feita em 2009:

Heligoland - Pitcher & Floxy Moxie
Quando ouço os Heligoland de Tim Friese-Greene entro num novo mundo. E isso é o maior elogio que se pode fazer a um artista.

Catherine Wheel - Adam and Eve
Um excelente disco dos noventas. E sim, lá anda também o senhor dos Heligoland.

The National - Boxer
Não cheguei a tempo em 2008...

Melhores Canções de audição feita em 2009:


There is a light - Nick Cave/Tim Friese-Greene
Heligoland - The War, Stupid
Catherine Wheel - Broken Bone
Catherine Wheel - Future Boy

No que diz respeito á Música Portuguesa foi um ano inegavelmente marcado pelo Lo-Fi da Flor Caveira. Gostei de canções do Samuel Úria (Barba Rella Barba Rala), b Fachada (Anda que está dura) e do Tiago Guilull (Beijas como uma Freira, Não ponhas pó-de-talco na minha quarta feira de cinzas).
O disco dos Pontos Negros ouve-se muito bem do principio ao fim, já o João Coração escapa-me.
Parabéns á malta da Flor Caveira.
De realçar também o regresso de Rui Reininho aos discos, pouca gente sabe escrever como ele no mundo.

Filmes? O Dark Knight claro. O There Will Be Blood e o The Fog também.

Tenham um excelente 2009, que o mundo fique um sítio melhor é o meu desejo.

Wednesday, December 24, 2008

Canção Perfeita

Um Natal Feliz para todos vós.



Fairytale of New York - Shane McGowan & Kirsty MacColl

Tuesday, December 16, 2008

"Revolução"

"É a palavra que melhor define a época em que vivemos." Sim, D. José Policarpo rockou no surpreendentemente interessante Pós e Contras de ontem.
I´m a fan.

Monday, December 8, 2008

Este sábado: Kendall no Hot Five

Este próximo Sábado o amigo João Nuno Kendall vai tocar com a sua excelente banda ao Hot Five e Yours Truly vai lá dar uma perninha na voz e guitarra num tema.
Conheci o João há cerca de dois anos, queria ele vender uma linda Fender Telecaster.
Combinamos encontro e trocamos meia dúzia de licks na dita guitarra. Pois bastou-lhe um simples lick Bluesy para perceber que estava na presença de um dos melhores guitarristas que Portugal viu nascer. Daí até á minha participação no disco dele e da participação dele no disco do LOBO foi um instante.
Apareçam no sábado para comprovar.

Wednesday, December 3, 2008

Belladonna:

-is a perennial herbaceous plant in the family Solanaceae. The drug atropine is produced from the foliage, which along with the berries are extremely toxic, with hallucinogenic properties. The name bella donna is derived from Italian and means "beautiful woman" because drops prepared from the belladonna plant were used to dilate women's pupils, an effect considered attractive. Belladonna is currently rarely used cosmetically, as it carries the adverse effects of causing minor visual distortions, inability to focus on near objects, and increased heart rate. Prolonged usage was reputed to cause blindness.

-é também o nome de um disco perfeito de Daniel Lanois. Do youselves a favor, não o deixem de ouvir está bem?



Belladonna - Daniel Lanois

Monday, November 24, 2008

Paddy McAloon é um génio

Anywhere that you go, I'm going to be the welcome there for you
Everywhere that you go - be certain that the table's set for two !
Maybe you'll learn - there's nowhere you can go
Baby you'll turn - as white, as white as snow

This ghost is here to stay
I survived the blast
Get Ready, get ready to pay
I'm taking you at last -
A prisoner of the past

This ghost is here to stay
He survived the blast
Get ready, get ready to say
I've found my niche at last -
A prisoner of the past

Prisioner of the Past - Prefab Sprout

Ela seguiu em frente, ele não. Assustadoramente belo.
É verdade, novo album dos Sprout para 2009, cá estaremos para o receber Paddy.

Monday, November 17, 2008

E se Obama fosse africano?

Publicado no Jornal Savana de Maputo
Por Mia Couto

E se Obama fosse africano?

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles.
Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada,
as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor.
Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me
atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista
sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era
apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se
reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem
permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem
dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para
Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa
feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra:
sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo
a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam
motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais
diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos
comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando
nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes
africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei:
estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama
familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na
pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de
ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o
Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse
outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês,
Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As
questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me
perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e
se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano?
São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George
Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o
seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar
mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa,
se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em
África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné
Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí
fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de
20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando
terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um
candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer
campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões:
seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia
retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não
toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte
dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que
fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a
descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda
está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos.
Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à
independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de
malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente".
Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá
nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer
política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é
mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu
próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos
que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as
elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um
"não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como
novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo
representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou
de nenhuma bandeira.

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação
aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de
agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para
os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas –
tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é
um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à
mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo
negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o
perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo
expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa
mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores
africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas
dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos
de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos
capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não
seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que
fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos -
as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a
alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e
corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para
esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de
Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto
daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios
dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de
estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o
bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os
noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre
África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África
continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada
de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses
políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns
casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é
lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no
nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também
vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com
esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos
em casa alheia.